Tive uma vida pública repleta de conquistas, cargos de destaque e condecorações. Fui juiz, deputado, constituinte, presidente de Província, ministro do Supremo e ministro da Fazenda e Justiça. Fui nomeado mestre de literatura e ciências positivistas. Além de Conselho de Sua Majestade, Gentil-Homem da Imperial Câmara e Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial. Mas fiquei eternizado mesmo pela honraria de de Sapucaí. Obviamente, com tal biografia, virei nome de avenida. E assim permaneci, fazendo parte da cidade do Rio de Janeiro como endereço por muito tempo. Até que, em 1984, o Sambódromo foi inaugurado justamente na avenida que leva o meu nome. E assim tornei-me, do dia pra noite, sinônimo do carnaval mais luxuoso do País.
No início, fiquei empolgado. Ter meu título relacionado ao palco onde acontece o maior espetáculo da terra, era motivo de orgulho. Daí o tempo foi passando, os sambas foram acelerando, os camarotes crescendo, os ingressos subindo e os desfiles virando espetáculos do Cirque du Soleil com ala das baianas. A empolgação mesmo foi embora, virou mais um show de tevê. Quanto mais o público boceja nas arquibancadas, maior fica a bancada de comentaristas.
Enquanto isso, fora do Sambódromo, os blocos de rua não param de crescer e se multiplicar. Alguns já superam a população do Uruguai, o que não é tão difícil assim, mas dá a indicação de expansão desse jeito de brincar o carnaval. Os blocos são ultrademocráticos, não cobram nada de quem quer brincar, aceitam fantasias usadas, músicos iniciantes e não fazem distinção entre palco e plateia. E se você quiser só assistir, não precisa nem colocar a camiseta do patrocinador.
Eu estou adorando essa bagunça toda. E quero aqui até elogiar um serviço oferecido
pelo prefeito do Rio que foi muito mal interpretado: o vomitador químico disfarçado
de banheiro. É perfeito para o carnaval, você vai lá esvaziar a bexiga e já sai de estômago vazio, pronto para encher o caneco novamente.
Desejo muito entrar nessa folia. Trocaria fácil minha avenida por uma ruazinha estreita sem importância na Tijuca ou no Peixoto. Poderia até ser uma vielinha, daquelas de onde partem aqueles blocos pequenos, recém-formados, com meia dúzia de foliões cantando uma marcinha de rimas pobres, acompanhados por músicos amadores. Qualquer alameda me serve. Só o que eu não quero mais é continuar na Sapucaí.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
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